
Coletivo LGBT Comunista – PI
Na noite da última quinta-feira (24), uma jovem trans foi assassinada com vários tiros enquanto andava por uma rua próxima a sua casa, em Piripiri (PI). Maria Eduarda, como foi identificada, tinha 22 anos e teve sua vida tirada por desconhecidos que fizeram os disparos e fugiram em seguida. Embora as autoridades digam que ainda não se sabe a motivação do crime, fica claro, com ajuda do depoimento da família (que descreveu Maria Eduarda como uma pessoa “tranquila e amigável com todo mundo”), que o motivação do assassinato foi transfobia.
O Brasil lidera o ranking de países que mais matam pessoas trans no mundo, ocupando, de acordo com a ONG Transgerder Europe, pelo 12º ano consecutivo esta posição. Só no ano passado, 151 pessoas trans foram assassinadas no Brasil, onde São Paulo e Ceará foram os estados com mais mortes dessa parte da população, contabilizando, respectivamente, 21 e 19 mortes. Esses números, divulgados no quinto boletim da ANTRA de 2020, foram contabilizados pela Associação por meio de notícias, informações nas redes sociais e dados de parceiros e aliados, visto a negligência do Estado, “que se recusa a registrar e divulgar dados sobre o assassinato de pessoas LGBTI+”, sendo “provável que os números reais sejam bem superiores” (ANTRA, 5/2020).
Casos como os de Maria Eduarda são, infelizmente, constantes em nossa realidade. Contudo, são “varridos” das estatísticas e banalizados pelas principais esferas públicas – exemplo disso a subnotificação, a ausência de um censo nacional sobre a população LGBT, a ausência do critério sexualidade e gênero do IBGE, entre outros. A violência contra a população Trans (e a população LGBT, no geral) foi plataforma de campanha em 2018 pelo Governo Bolsonaro – Mourão – Guedes, cujo discurso fomenta a escalada contra essa população, ao passo que usa dessas ideologias para o mascaramento da agenda neoliberal e fascista.
Além de ser uma clara tentativa de fragmentação das lutas da classe trabalhadora, aliado a precarização da vida no Brasil nos últimos anos, por meio do avanço de privatizações, corte de verbas, entre outros, esses fatores culminam no abismo da existência das pessoas trans, colocando-as à margem da sociedade e, consequentemente, levando-as a se submeter às piores condições de trabalho e de renda, além do acesso ao ensino, à saúde, moradia, entre outras.
Em uma sociabilidade capitalista, cujas vidas trans não tem valor para o capital, a não ser o de exército de reserva lucrativo para a precarização, tende-se a rejeitar tudo que não é cisgênero e congruente com a ideologia da família burguesa. Faz-se mister a compreensão de como todos esses mecanismos – e a violência, diga-se de passagem – são sustentáculos do modo de produção capitalista, que se beneficia dessa fragmentação da classe trabalhadora, uma vez que ela afasta a possibilidade de uma luta conjunta, além de se reproduzir às custas da precarização, violência e morte da população trans – e da população LGBT, como um todo da diversidade da classe trabalhadora existente.
Em pleno mês do Orgulho, assiste-se a uma assombrosa escalada da violência contra a população trans que, infelizmente, já convive com esta desde que se compreendem e afirmam como tais frente a uma sociabilidade capitalista. Ao passo que empresas, bancos e outros setores produtivos do capitalismo se pintam, neste mês, com as cores LGBTs, ressaltam “o amor”, “a aceitação” e outras questões, apaga-se, de todos os espaços, a cruel e dura realidade da maioria das LGBTs, relegando a segundo plano questões urgentes a essa população. Aparentemente, celebrar o mês do orgulho está condicionado aos interesses de quem paga a banda, destacando pautas liberais como o amor e aceitação, ao passo que eclipsa a brutal violência que a população trans e o todo da população LGBT vive, em sua realidade.
Clamamos por justiça por Maria Eduarda, assim como por toda a população trans que teve sua vida ceifada, em prol da máquina do capital que continua a se expandir e a destruir todas as peças que interessam, unicamente, a sua sustentação. Contudo, não devemos ter ilusões com os aparatos burgueses, supondo que a emancipação e a existência da população trans ocorrerá dentro da sociabilidade burguesa. Para tanto, convocamos a todas LGBTs a construir a superação e a destruição desse sistema, construindo o Poder Popular, rumo ao Socialismo, onde será alcançado, de fato, a emancipação e a real existência de todas!
Justiça por Maria Eduarda!
Nenhuma vida LGBT a menos!
LGBTs tem classe!
LGBTs vão à luta revolucionária!
Pelo poder popular!